Putin aceita plano dos EUA para paz na Ucrânia, mas ameaça avançar se não houver acordo

Putin aceita plano dos EUA para paz na Ucrânia, mas ameaça avançar se não houver acordo

Em um discurso televisionado na sexta-feira, 21 de novembro de 2025, Vladimir Vladimirovitch Putin fez uma declaração que abalou os alicerces da diplomacia internacional: o plano de paz norte-americano para a Ucrânia "pode constituir a base de um acordo de paz final". Mas a concessão veio com uma nuvem de ameaças. O presidente russo não escondeu seu desdém — o texto não foi discutido com Moscou de forma substantiva, e ele "pode adivinhar porquê". Enquanto o mundo respirava aliviado com a possibilidade de fim da guerra, Putin deixou claro: as forças russas continuarão avançando. Se não houver um acordo, ele prometeu "conquistar mais territórios". A guerra, longe de estar perto do fim, entrou em uma nova e mais perigosa fase.

Um plano de 28 pontos que muda o mapa da Europa

O plano apresentado pelo governo dos Estados Unidos, segundo documentos obtidos pela AFP, é implacável em seus termos. Exige que a Ucrânia ceda formalmente as regiões de Donetsk e Luhansk — territórios que Moscou já controla de fato desde 2014 — e reconheça a anexação da Crimeia, anexada ilegalmente em 2014. Em troca, Washington oferece garantias de segurança, mas nada de adesão à NATO. Kiev também teria de reduzir drasticamente seu exército, em um movimento que muitos analistas chamam de desarmamento sob coação.

É um plano que, na prática, consagra a derrota territorial da Ucrânia. E o mais preocupante: os Estados Unidos, segundo o documento, reconheceriam de fato essas anexações — algo que até agora nunca aconteceu, nem mesmo sob governos mais próximos de Moscou. O que antes era uma linha vermelha diplomática tornou-se, agora, uma proposta negociável.

Zelenskyy na corda bamba: "Vamos trabalhar calmamente"

O presidente ucraniano, Volodymyr Oleksandrovych Zelenskyy, não rejeitou o plano. Mas também não o aceitou. Em uma postagem no X, em 23 de novembro, às 15:57 UTC, ele escreveu: "A delegação ucraniana está trabalhando em Genebra hoje, focada em encontrar soluções viáveis para acabar com a guerra, restaurar a paz e garantir segurança duradoura." Ele admitiu que algumas propostas podem refletir interesses ucranianos — mas deixou claro que não há espaço para ilusões. "Não conseguiremos tudo", disse ele, em tom de advertência interna. "E se recusarmos tudo, corremos o risco de perder o apoio americano."

A pressão é imensa. Em casa, Zelenskyy enfrenta um escândalo de corrupção que mina sua legitimidade. Ele pediu aos ucranianos que "parem de lutar entre si" — uma clara referência às divisões internas. Mas no exterior, a realidade é ainda mais dura: o prazo de Donald Trump para uma resposta é 27 de novembro. Sem acordo, os EUA podem desviar recursos, e a Ucrânia pode ficar sozinha.

Genebra: o palco onde o futuro da Europa se decide

Na manhã de 23 de novembro, o enviado especial norte-americano Steve Witkoff e o secretário de Estado Marco Antonio Rubio chegaram a Genebra, Suíça, para iniciar negociações diretas com Kiev. A reunião não era só técnica — era simbólica. Era a primeira vez que representantes dos EUA e da Ucrânia se sentavam à mesma mesa para discutir o plano, após semanas de tensões. O vice-presidente James David Vance já havia ligado para Zelenskyy na sexta-feira, mas os detalhes permaneceram ocultos. A mensagem era clara: Washington está pressionando, mas não abandonando.

Enquanto isso, a União Europeia reagiu com cautela. Em comunicado de 21 de novembro, os europeus afirmaram que "a linha de contato deve ser o ponto de partida" — ou seja, não se pode negociar sobre territórios já ocupados. E insistiram: as forças armadas ucranianas devem permanecer capazes de se defender. Para muitos diplomatas europeus, o plano americano é uma capitulação disfarçada de diplomacia.

Putin não quer negociações — quer vitória

Putin não quer negociações — quer vitória

Aqui está o paradoxo: Putin diz estar "pronto para uma resolução pacífica". Mas ele também diz que, se não houver acordo, avançará. Isso não é ambiguidade. É estratégia. A Rússia não quer negociar com a Ucrânia — quer negociar com os EUA. E quer fazer isso sem testemunhas. Analistas como Melvin apontam que Putin busca uma cimeira secreta com Trump, talvez na Arábia Saudita, onde questões como armas nucleares, Oriente Médio e Ucrânia seriam tratadas como um único pacote. A Ucrânia, nesse jogo, é apenas uma peça.

Desde fevereiro de 2025, quando Trump anunciou o início das negociações, Putin já havia chamado Zelenskyy de "tóxico" — e acusado o presidente ucraniano de evitar a paz para fugir das eleições. Agora, ele usa o plano americano como alavanca. Se Zelenskyy recusar, Putin pode dizer que a Ucrânia rejeitou a paz. Se aceitar, Moscou ganha território e legitimidade. Não há ganhador aqui — só perdedores.

O que vem depois? O preço da paz

O plano americano não é apenas um documento. É um sinal de mudança de era. O que antes era uma guerra de resistência ucraniana tornou-se um jogo de poder entre grandes potências. A Europa, que até agora sustentou Kiev com armas e dinheiro, agora vê seu modelo de segurança desmoronar. Os países bálticos já começam a reforçar suas fronteiras. A Polônia, a Romênia, a Eslováquia — todos estão revisando seus planos de defesa. A NATO, que prometeu proteção, agora parece incapaz de impedir que seus próprios aliados negociem a soberania de um país membro potencial.

Para os ucranianos, o custo será moral e material. Ceder Donetsk e Luhansk não é apenas perder território — é abandonar mais de 3 milhões de pessoas que vivem lá. É dizer que a resistência de dois anos, com mais de 300 mil mortos e 8 milhões de deslocados, foi em vão. E é enviar uma mensagem ao mundo: quando um país é atacado, a comunidade internacional pode negociar sua sobrevivência.

Frequently Asked Questions

Por que Putin aceitou o plano dos EUA se ele já controla os territórios?

Putin não quer apenas controle militar — quer reconhecimento internacional. A anexação da Crimeia em 2014 foi condenada globalmente. Se os EUA reconhecerem Donetsk, Luhansk e a Crimeia como "russas de fato", é uma vitória diplomática que legitima sua expansão. Isso também enfraquece a Ucrânia politicamente e abre caminho para futuras negociações sem sua participação.

O que acontece se a Ucrânia recusar o plano até 27 de novembro?

Se Kiev recusar, os EUA podem reduzir ou suspender o apoio militar e financeiro, já que Trump exige resultados concretos. Putin, por sua vez, provavelmente intensificará os ataques no leste e sul da Ucrânia, buscando capturar mais territórios antes de qualquer nova rodada de negociações. A guerra se tornaria ainda mais sangrenta, e a Ucrânia ficaria isolada.

Por que a Europa se opõe ao plano, mesmo sendo aliada dos EUA?

A Europa vê o plano como uma capitulação que viola o direito internacional e o princípio da soberania territorial. Se a Ucrânia for forçada a ceder territórios, isso abre precedente para outras invasões — na Moldávia, na Geórgia, ou até mesmo na Balcãs. Além disso, os países europeus já investiram bilhões em ajuda à Ucrânia e não querem ver esse esforço anulado por um acordo feito às costas de Kiev.

Zelenskyy tem alguma margem de manobra?

Sim, mas é mínima. Ele pode tentar negociar prazos, exigir garantias mais claras de segurança ou pedir ajuda de países como Canadá, Reino Unido e Japão para contrabalançar a pressão americana. Mas, sem apoio dos EUA, sua capacidade de resistência militar cairá drasticamente. A escolha é entre um acordo doloroso e uma guerra que pode durar anos — e terminar com mais perdas.

O que isso significa para a NATO?

Se a Ucrânia aceitar o plano e renunciar à NATO, isso enfraquece a credibilidade da aliança como garante de segurança. Países como Finlândia e Suécia, que recentemente se juntaram à NATO, podem se perguntar: se a Ucrânia não é protegida, quem é? A aliança corre o risco de se tornar uma organização de interesses estratégicos, e não de defesa coletiva.

Há chances de um acordo real, ou é só uma farsa?

O plano parece mais uma manobra política do que uma proposta séria de paz. A Rússia já controla os territórios em disputa — o que ela quer é legitimidade. Os EUA querem sair da guerra sem perder rosto. A Ucrânia é a única que não tem poder de barganha. Um acordo real exigiria retirada russa, justiça e segurança — coisas que não estão no texto. O que temos é um acordo que parece feito para acabar com a guerra nos livros, mas não na realidade.